O prazer e a morte são o tema dos oito contos reunidos aqui. Todos eles têm personagens que, de um modo ou de outro, vão atrás da sua pequena morte, expressão de origem francesa que designa o orgasmo. E, mesmo quando ninguém morre, chegamos ao final com a impressão de ter assistido a uma variante qualquer do acto de morrer. Mestre absoluto no controle do ritmo narrativo, Rubem Fonseca gera expectativas e surpresas, pratica a arte de tensionar e distender a narrativa, de conduzi-la sem pressa ao clímax desejado. É uma literatura que não nos deixa descansar. (…) A Rainha de Aragão, como conta Montaigne, bem antes desse antigo reino unir-se ao de Castela, no século XV, depois de madura deliberação do seu Conselho privado, estabeleceu como regra, tendo em vista a moderação requerida pela modéstia dentro dos casamentos, que o número de seis cópulas por dia era um limite legal, necessário e competente. Ou seja, naquele tempo um homem e uma mulher copulavam , de maneira competente e modesta, seis vezes por dia. Flaubert, para quem une once de sperme perdue fatigue plus que trois litres de sang (já falei disso num dos meus livros), achava as seis cópulas por dia humanamente impossíveis, mas Flaubert não era, sabemos, um Espada. (…)
