“Uns poetas falam, outros não, só escrevem e para eles, por silêncio necessário. Os que falam cantam também, às vezes, como os mais antigos faziam. A voz que têm ou tenham é a própria — mas nem sempre apropriada, porque a palavra escrita soa-lhes diferente, e eles têm dificuldade, ou impossibilidade, de a igualarem depois, em sonoro. […] Ainda se usará recitar? Na escola primária ou depois, já não digo na Universidade, era bom fazê-lo, para memória e inteligência dos textos. Há meio século? Ou antes, havia diseuses (e o signatário jura que ouviu, menino, a Berta Singerman, e depois a Manuela Porto), e diseurs — e também o Villaret, bate-batendo ritmos. A Maria Germana é claro que sim, por amizade antiga da Faculdade tumular do Convento de Jesus. E agora, em disco — tão presente, em pessoa e enleio que nos prende de verso em verso adivinhando e escondendo o seguinte que depois é sempre revelação, como deve ser — e para o poeta foi. Ela sabe como ela sabe, do Mário, do Fernando e dos outros, e do Zé Almada — ao ter-lhe encenado, tão bem e tão certa, por dentro, o seu Nome de Guerra. Foi a última vez que a aplaudi ao vivo, e o lembro agora, por distância mais de espaço que de tempo.” Na introdução de José-Augusto França a este audiolivro.
