As Mão e os Frutos é um livro composto graças a um conjunto de circunstâncias que o fizeram feliz. Escrito por um homem na força da juventude, mas no momento raro em que a adolescência não murchou de amarga, nem a maturidade já se fez de triste. Escrito, assim, com lucidez sem angústia, ardor sem ingenuidade, segurança sem complacência, inquietação sem azedume, tranquilidade sem ignorância, e com franqueza discreta, elegância viril, naturalidade para além do desafio (…). As mãos e os frutos… As mãos que se estendem, que tocam, que acariciam… Os frutos que, maduros, tombam e se entregam… Não as mãos que suplicam ou que receiam ou desistem. Não “os frutos de sombra sem sabor”, como o poeta diz. Mas as mãos e os frutos do poeta que, aos vinte e cinco anos, podia serenamente dizer: Se vens à minha procura, eu aqui estou. Toma-me, noite, sem sombra de amargura, consciente do que dou - na plena epifania de celebrar aquele momento em que …gravemente, comedidas, param as fontes a beber-te a face. Jorge de Sena , Janeiro 1970
