«Também Florbela deixou uma a uma as suas máscaras e, da sua cova, foi chamada para que falasse diante do rei, que é o homem doutro tempo e doutro lugar; o que entende o seu valor, o que lhe concede a justa glória. As máscaras ficaram abandonadas, ninguém mais as quer decifrar como prova de corrupção e de morte. Até as mais inocentes são inúteis agora; as que eram como uma borboleta azul no rosto do poeta, até essas parecem ridículas. Só a nua face, sem risos e sem lágrimas, aparece. E os versos? Desprendem-se também, e caem na terra; são como os passos verticais dum anjo, pousam numa atmosfera que eles próprios criam. Versos e poeta são coisas diferentes. Uns são amados; o outro é expulso para as trevas que ele ama.» Agustina Bessa-Luís