Estou alojado num casarão antigo, decrépito, cujas paredes, de um amarelo prodigioso, dir-se-iam perpetuamente iluminadas pelo furor do crepúsculo. Chama-se Grande Hotel do Oriente. Apenas o nome, gravado numa larga placa de madeira sobre a fachada em ruínas, guarda ainda o brilho do passado irrecuperável. Há por aqui em Goa, muita gente como este hotel. Os últimos descendentes da velha aristocracia católica ostentam nomes igualmente improváveis, tão portugueses que em Portugal existem mais, e fazem-no com o orgulho melancólico de quem tudo teve e tudo viu ruir e desaparecer. O povo, no entanto, usa-os sem entendimento, corrompe-os alegremente. (...) Relato de uma partida para Goa no intuito de ali se encontrar alguém, mas onde tudo o que se encontra acaba por revelar a estranheza de diferentes lugares e pessoas. Numa história onde José Eduardo Agualusa o autor, se confunde com o narrador, deparamo-nos com várias personagens bizarras, incluindo o próprio Diabo, disfarçado atrás de muitos nomes e identidades.
