Sabe-se que Aline et Valcour ou le Roman Philosophique começou a ser escrito no princípio de 1786, fruto de vários anos de insónia, dirá ele mais tarde. A sua linguagem é decente e o seu tom moralizador; romance em cartas de uma longa história que tem dentro outra longa história, por sua vez com outras duas autónomas, no seu interior, que interrompem o curso central da narrativa. Duas cartas, que somam cerca de seiscentas páginas, contam a história de Léonore e Sainville. A parte deste romance passada entre portugueses fala de uma Léonore que se afasta da sexualidade para voltar pura para os braços de Sainville; mas talvez se reconheça ambiguidade à sua recusa; talvez se não veja nela pudor nem sentimento mas sobretudo orgulho; talvez já se pressinta um anúncio tímido dos futuros excessos de Juliette, uma das heroínas mais obscenas de Sade, sem chegar, contudo, a pô-los aqui em prática. (Aníbal Fernandes, excertos da apresentação)