Com uma história ambientada nos bastidores da cultura erudita de São Paulo, Patrícia Melo abre novos caminhos em seu universo narrativo, trazendo para o centro da trama as perturbações afectivas de um maestro apaixonado por uma mulher trinta anos mais nova. Marie é uma violinista judia que, interessada pela cultura e pelas origens de seu povo, recorta notícias de jornal sobre o conflito no Médio Oriente. Uma crise de ciúme convulsiona o relacionamento entre os dois. A natureza do sentimento do maestro por Marie é confusa: ele suspeita que ela teve um caso com Sandorsky, um colega que a violinista conheceu em recente visita a Israel. Gustav Mahler, judaísmo, amores frustrados, sexo, psicanálise, crise no Oriente Médio, miséria existencial, a vida em São Paulo, os bastidores de uma orquestra e ímpetos suicidas - a matéria de que Valsa Negra se compõe é a própria polifonia da vida contemporânea. «Falou-me sobre a minha relação com Marie, disse-me que meu ciúme não era normal, que tudo o que eu lhe contava sobre inveja, desejo de posse, suspeita, emulação, competição, rivalidade, despeito, contas, repetição, alívio, receio de perder alguma coisa, eram distúrbios provocados por uma patologia. (...) Disse que meu comportamento bizarro, a desconfiança excessiva e infundada em Marie, “tudo isso faz parte da doença”. Otelo era portador desse mal. E José, da ópera Carmen. (...) E para citar alguém de carne e osso, Freud. A vida da mulher dele era um inferno. Sabia que Frank Sinatra certa vez interrompeu um show para telefonar para Ava Gardner? Porquê? Porque estava doente. Uma doença física, como o câncer. (...) “Você está doente”, ele disse, “e precisa se tratar”.»