Quem quer saber de culpa e arrependimento? Queremos acção. Sangue. Violênvia. Você já escreveu catorze livros e ainda não aprendeu? Não leu as regras do Van Dine? Estão pregadas no nosso mural, as regras do Van Dine. Um romance polícial precisa de um cadáver, e quanto mais morto ele estiver, melhor. E não pode ser um cadáver qualquer. Como vamos despertar o sentimento de vingança nos leitores matando uma velha sarnenta e indesejável? Se uma velha dessas morre, o povo aplaude. Neste seu terceiro livro, Patrícia Melo confirma o lugar de destaque que ocupa entre os novos talentos da literatura brasileira. Combinando a fluência da linguagem, o domínio da montagem narrativa e a crítica ácida aos temas que aborda, Elogio da Mentira pode ser pode ser lido de várias maneiras. Como romance policial, por exemplo, trata-se de uma obra comparável aos grandes clássicos do género: o leitor será apanhado numa trama cerrada, dessas que tornam absolutamente necessário ir até à última linha do livro. Mas, enquanto nos envolve nessa trama criminosa, Patrícia Melo homenageia, através da paródia, alguns mestres de um género literário universalmente cultivado. O leitor habitual de romances policiais vai reconhecer aqui a intriga de um homicídio supostamente perfeito narrada por James Cain. Camus também aparece neste romance, além de Edgar Allan Poe, Chesterton, Dostoievski, Patricia Highsmith, Agatha christie, Rubem Fonseca e Zola: todos eles são usados pela autora, de um modo ou de outro, e, assim, o crime como eixo narrativo revela um parentesco insuspeitado entre esses escritores tão variados. Elogio da mentira é tembém um retrato sarcástico do mundo editorial. Seja uma novela de mistério vendida num quiosque, seja um best-seller de auto-ajuda ou de esoterismo, não importa: nada escapa à ironia da escritora. Patrícia Melo destila um sentido de humor que andava esquecido na literatura brasileira