Com vinte e um anos de idade e farto dos provincianismos de Granada, o jovem Lorca mergulhou de corpo inteiro no turbilhão cultural de Madrid. Lia, ouvia e via tudo, tinha vizinhos de quarto tão invulgares como Luis Buñuel e Salvador Dalí. Não frequentava as aulas, antes divertia-se e divertia. Em papéis soltos, as suas poesias começavam a encher-se de uma Andaluzia essencial, de morte cantada como mutilação trágica da vida, de touros e homens num abraço de agonia flamenca, de santos com suores e lágrimas de sangue, de santas com rendas e rosto de mulher nocturna, de ciganos em estado de inocência. Os anos de vida que lhe sobravam, dezassete, foram vividos assim – a escrever –, vagueando à volta deste mundo saído da Espanha profunda, que celebrava nos seus poemas.